quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O escotismo e a política

No último ano, presenciamos o surgimento de vários projetos que dão subsídios à prática do escotismo. Conhecemos, ao menos, quatro projetos-lei (SC, PR, RJ e DF), promovidos quer por escoteiros, quer por políticos simpatizantes da causa escoteira.

Talvez este artigo não seja o mais apropriado para o público jovem, já que decisões e iniciativas como essa passam, em sua totalidade, pelas mãos de adultos. Porém, sendo eles, os jovens, os que se beneficiarão em um futuro próximo desses projetos, nada impede que possam forjar sua opinião desde já.

Se os amigos me permitem uma observação, há uma certa confusão dentro do escotismo sobre o fator político e o fator partidário. O movimento escoteiro, desde que nasceu a mãos de Baden-Powell, é um movimento político, o que é diverso de partidário. Explicando melhor, quando uma Patrulha se reúne para escolher os cargos de seus patrulheiros, estará fazendo política. Baden-Powell, quando em visita aos chefes de estado para que estes contemplassem a possibilidade do método escoteiro em seus territórios, estava praticando a política.

Com isso, vemos que o escotismo, no último ano, tem se dedicado à prática política, talvez até mais do que nas décadas anteriores. E, como ressalva, esta política não se estende, infelizmente, às relações interassociações e, às vezes, sequer à intra-associativa. Resumindo, enquanto dedicamos esforços para fazer política fora de nossas “fileiras”, temos sérios problemas políticos dentro de nossas instituições. Mas isto deixemos para outro fogo de conselho.

A notícia mais recente é o projeto-lei que estabelece convênio entre o estado do Paraná e o escotismo para a prática do método escoteiro nas escolas. Iniciativa que também podemos ver no Rio de Janeiro e Brasília. Tal notícia pode ser lida no portal do Governo do Estado do Paraná.

Os grupos que tive a oportunidade de visitar e que, através de um ofício, estabeleceram suas sedes em escolas, têm um bom efetivo e conseguem uma participação mais próxima da comunidade (Associação de Moradores, Associação de Pais e Professores, etc), o que é um ponto a favor neste tipo de projeto.

Porém, sem querer tirar o brilho das manifestações escoteiras, os projetos de lei, quando envolvem escolas, cometem alguns erros. Um deles é a insistência no uso de professores como “mão de obra escoteira”. Isso, sempre dentro da minha opinião e estando livre o leitor em discordar, não deveria ser assim, lembrando que o escotismo é uma iniciativa privada e lembrando, claro, dos problemas salariais e de condições de trabalho que vêm sofrendo o corpo docente da rede pública de ensino.

Em SC, por exemplo, o pedido de professores em um projeto-lei recentemente aprovado foi negado de maneira veemente pelo Secretário de Educação, alegando que não poderia oferecer o já reduzido quadro de professores a uma iniciativa particular, por nobre que fosse. O escotismo deveria trabalhar como sempre trabalhou: com voluntários e, principalmente, com os pais. Mesmo assim, o que temos visto é que os projetos tentam, de alguma forma, utilizarem os professores sob a égide do “voluntáriado”, o que é um erro. Neste específico caso, seria mais viável profissionalizar o escotismo.
Reparem, amigos, que estes pedidos não são feitos com má intenção, apenas são feitos sem uma assessoria qualificada.

Uma outra informação “pescada” na última notícia veiculada pelo portal do Governo do Estado do Paraná em referência ao projeto de lei sobre escotismo nas escolas foi essa:



O missivista foi a primeira pessoa sensata, ao meu ver, a admitir que o escotismo não contempla a possibilidade da participação da classe dita “baixa”.

Uma coisa é isentar um que outro carente do registro; outra seria isentar totalmente de taxas (atividades, registros, cursos, etc) qualquer criança ou adulto sem condições financeiras, o que o escotismo nunca fez; ou fez apenas nos primeiros anos de sua existência; ou fez única e exclusivamente por iniciativa dos Grupos Escoteiros, sem qualquer ajuda institucional.

É justificável e louvável admitir que, no decorrer dos anos, o escotismo se tornou uma prática para poucos e que, agora, com a ajuda do poder público, terá uma maior abrangência.

Como nos ensina a velha premissa: o primeiro passo é admitir o erro, para logo solucioná-lo.

Sugestões.

Os amigos devem saber que aqui se emite uma opinião pessoal, que tem a alternativa de ser levada em boa conta ou não. É uma das maneiras de ver o panorama escoteiro na questão política e pode não ser a mais acertada.

Sabendo disso, fico tranquilo em comentar este assunto e convido, desde já, os leitores a participarem, ao mais puro estilo “ao pé do fogo”.

A primeira destas sugestões, como visto nos primeiros parágrafos deste artigo, é a prática da política entre nós, os escoteiros. Façamos uma mesa de debates com representantes das distintas realidades escoteiras e, aí sim, vamos adquirir bons argumentos para elaborar um projeto de lei. Não enxergo maior manifestação democrática que esta.

Admitamos, por exemplo, a participação de conselheiros ou até mesmo a contratação de profissionais que possam assessorar nossos pedidos junto ao poder público. Admitamos que o escotismo, por ter despesas, terá que gerar receita: analisemos esta última e criemos um fórum de debates onde poderemos analisar cases de sucesso na parceria entre Grupos Escoteiros e a iniciativa privada, por exemplo.

Somos conhecidos mundialmente, entre outras coisas, por “fazer tudo bem feito”. Os passos do escotismo em direção às parcerias com o poder público podem vir a ser uma boa alternativa. Façamos isto, então, da melhor maneira que pudermos e, sobretudo, sendo transparentes e contemplando as distintas realidades escoteiras que existem em um país continental, como é o caso do Brasil.

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